O design gráfico feito em Curitiba está se afastando do visual limpo demais e apostando em propostas mais livres e expressivas.
Curitiba, essa cidade onde o frio chega sem avisar e o café é sempre bem-vindo, está vivendo uma revolução visual. Mas não, não é só nas ruas, nos parques ou nas feirinhas de domingo — é no universo do design gráfico. A capital paranaense, que já é um caldeirão cultural por natureza, tem mostrado uma inquietação criativa que vem chamando atenção em todo o Brasil. E tudo isso tem nome, forma e muitas cores. Ou melhor, às vezes não tem forma nenhuma, e é justamente aí que a mágica acontece.
Hoje em dia, a palavra da vez é contraste. E isso não tem nada a ver com ajustar brilho no Photoshop. Os designers curitibanos estão mergulhando de cabeça em um movimento que mistura o feio com o bonito, o bagunçado com o milimetricamente alinhado, a nostalgia do analógico com a histeria do digital. E fazem isso com um sorrisinho no rosto e um café na mão.
Uma das tendências mais queridas por aqui atende por um nome curioso: chicken scratch. Parece nome de banda de rock alternativo, mas é um estilo que desafia todas as aulas de design que você já viu. Esqueça o traço perfeito, o vetor impecável, a simetria das linhas — o que importa aqui é o erro. Ou melhor, o que parece erro, mas foi muito bem pensado. É como se alguém tivesse desenhado no Paint com a mão tremendo de propósito. E isso, acredite, é lindo.
Essa estética está invadindo embalagens, logos e até murais urbanos. Tem marca de cosmético por aqui que apostou nos rabiscos caóticos como identidade visual — e está fazendo o maior sucesso. Por quê? Porque parece humano. Parece feito na pressa do cotidiano. E no meio de tanta IA gerando imagem perfeita em segundos, o que chama atenção agora é o imperfeito de propósito.
Enquanto isso, outro movimento vem ganhando força com quem gosta de colecionar tudo — até nota fiscal de cafeteria. É o chamado structured scrapbook. Um nome chique pra um visual que tem cara de colagem de caderno, mas com a precisão de quem passou horas arrumando cada elemento. Camadas de papel digital, texturas, selos, fitas adesivas escaneadas… tudo meticulosamente calculado pra parecer espontâneo. É como se a estética do “organizado bagunçado” finalmente tivesse seu momento de glória.
Esse estilo tá presente nas campanhas mais modernas das produtoras de conteúdo locais, nas capas de revistas independentes e até em sites de moda alternativa. Mistura de texturas, fotos antigas, fontes retrô e uma pegada de “colecionador de referências visuais” fazem com que o resultado final seja puro charme. E claro: extremamente curitibano.
Mas nem só de bagunça vive o design gráfico da cidade. Tem espaço também pra quem gosta de um pouco mais de ordem, contanto que venha com personalidade. Entra em cena o tal do minimal maximalismo — que, sim, soa contraditório, mas define exatamente o que está acontecendo. Sabe aquela arte com um elemento gigante, uma tipografia ousada, mas o resto tudo limpinho? Então, é isso. Menos é mais, mas com um grito no meio.
O minimalismo que ficou famoso nos anos 2010 deu uma cansada. Já não basta ser limpo — tem que ter presença. E em Curitiba, essa presença se manifesta em pôsteres de shows alternativos, sites de e-commerce e até na vitrine daquela cafeteria que vende café filtrado em três tempos diferentes. A lógica é simples: se for pra ser simples, que seja com impacto.
Hypercolor: quando a cor vira protagonista
Se tem uma coisa que anda chamando atenção nos projetos de design gráfico em Curitiba, é o retorno com força total das cores vibrantes. E não estamos falando só de paleta alegre — estamos falando de uma explosão cromática que beira o exagero. Essa tendência atende pelo nome de hypercolor, e o nome já dá pistas: saturação no máximo, contrastes que desafiam os olhos e uma energia visual que praticamente salta da tela.
Sabe aquele verde que parece neon de boate? Ou um roxo que mais parece ter saído direto de um brinquedo dos anos 90? Então. A ideia aqui é justamente criar impacto. Nada de cores discretas ou neutras. O foco é gerar presença, destaque e… por que não dizer? memória visual. Porque quem vê um projeto desses, não esquece.
Em Curitiba, isso tem aparecido com frequência em embalagens, identidades visuais para marcas jovens e até campanhas publicitárias para redes sociais. É o tipo de visual que faz sentido em uma cidade cheia de movimentos culturais e com um público que valoriza o inusitado. Marcas locais de bebidas, cafeterias descoladas, festivais independentes… todos embarcando sem medo nessa estética que não tem medo de ousar.
O mais curioso? Essa tendência tem uma pegada que lembra brinquedos antigos, revistas infantis, design de videogames retrô… mas tudo reinterpretado com um olhar atual. Não é saudosismo. É mais como se os designers estivessem dizendo: “A gente pode se divertir com isso, sim. E pode ficar bonito, funcional e bem pensado ao mesmo tempo.”
Quem acha que design precisa ser só elegante e silencioso, talvez estranhe num primeiro momento. Mas o hypercolor tem uma função estratégica: chamar atenção em um mundo saturado de informação. E isso Curitiba tem entendido bem. Especialmente quando o objetivo é se destacar no feed do Instagram — onde meio segundo de atenção pode fazer toda a diferença.
Strange historicism: uma volta ao passado… bem do jeito atual
Agora, se de um lado temos cor e exagero, de outro temos uma tendência que aposta na densidade, nos detalhes e na estranheza estética com referências históricas. O nome? Strange historicism — algo como “historicismo estranho”. E olha, ele está aparecendo de forma surpreendente em projetos que, num primeiro olhar, poderiam até passar despercebidos.
Essa estética mistura elementos de várias épocas — tipografias góticas, ornamentos medievais, padrões de tapeçaria, texturas antigas — e transforma tudo isso em uma identidade visual que parece ter saído de um livro antigo… mas não exatamente. O curioso é que não há uma fidelidade histórica. Os elementos são remixados, recontextualizados. É quase como se o passado fosse visto por um filtro de ficção.
E o que isso tem a ver com Curitiba? Muita coisa. A cidade tem uma relação forte com o antigo. É só dar uma volta pelo centro histórico ou observar a arquitetura de bairros como São Francisco e entender como essa estética conversa com a atmosfera local. Não é à toa que estúdios da cidade têm explorado esse caminho em projetos para marcas de moda, cafeterias com visual retrô, e até editoras independentes que buscam sair do padrão visual convencional.
O resultado? Uma estética que provoca. Que exige mais tempo de observação. Que desperta sensações complexas. Não é o tipo de design que se “entende” de cara — e isso é proposital. Ele trabalha com a ideia de camadas visuais, como se a própria identidade de uma marca fosse construída em cima de histórias e simbolismos.
E aqui vai uma curiosidade: o uso de tipografias antigas, como as fontes em estilo blackletter, voltou com tudo em algumas publicações locais. Revistas de arte, zines independentes, capas de livros… todas explorando esse ar de mistério que o estilo entrega. É quase uma resposta direta ao excesso de padronização que o design sofreu nos últimos anos.
A mistura é o novo padrão
O mais interessante é que as tendências não aparecem sozinhas. Em Curitiba, os projetos mais criativos estão justamente na interseção entre essas linguagens. Um exemplo? Um estúdio que combina tipografia medieval com cores neon. Outro que usa colagens analógicas com rabiscos no estilo chicken scratch. E ainda aquele site que mistura um layout super minimalista com uma ilustração propositalmente esquisita.
A graça, na verdade, está nessa liberdade. Designers locais parecem ter compreendido que o verdadeiro diferencial está em criar um vocabulário visual próprio, sem seguir receitas prontas. Se um projeto pede mais cor, ele ganha cor. Se pede um toque humano, ele ganha uma textura desenhada à mão. Se precisa ser enigmático, traz uma letra gótica em pleno 2025. A estética é consequência do conceito — e isso faz toda a diferença.
E por que isso tem funcionado tão bem em Curitiba? Talvez porque a cidade abriga uma cena criativa diversa, descentralizada, e muito bem conectada com o que acontece no mundo, sem perder o sotaque local. Tem gente que veio do design de produto, gente da publicidade, gente do audiovisual, da arte urbana… Todo mundo misturando referências, criando pontes e propondo novas formas de se comunicar visualmente.
Além disso, os clientes estão mais abertos. Pequenos negócios, marcas autorais, projetos culturais — todos querendo sair do óbvio e apostar em uma identidade que reflita verdade, originalidade e, acima de tudo, conexão. O design gráfico feito em Curitiba entendeu que estética, quando bem usada, não é enfeite. É estratégia.
A beleza do imperfeito: por que o feito à mão venceu a IA no design gráfico de Curitiba
Em tempos em que se cria uma identidade visual com poucos cliques e se gera uma imagem bonita com comandos de texto, era de se esperar que o design gráfico fosse dominado por ferramentas de inteligência artificial. Só que, em Curitiba, uma tendência inversa vem ganhando força: o retorno ao feito à mão, com todas as suas falhas, texturas, borrões e riscos meio tortos. E a pergunta que surge é: por que, afinal, o que parece “errado” tem chamado tanto a atenção?
O motivo é simples, mas poderoso: emoção. Os traços manuais carregam um tipo de expressividade que os algoritmos ainda não conseguem imitar. Um risco tremido, uma linha inacabada ou uma pincelada fora do lugar falam diretamente com quem vê. Porque ali tem gesto, tem intenção, tem um ser humano por trás. E isso, hoje, é mais raro do que parece.
Nos estúdios curitibanos, essa preferência pelo toque humano tem aparecido com força principalmente em projetos voltados ao público jovem e alternativo. Em vez de optar por ilustrações digitais limpinhas, muitos designers têm apostado no estilo “desenhado no caderno de aula”. Linhas nervosas, cores chapadas, composições que parecem improvisadas… mas que, no fundo, foram planejadas com cuidado pra parecerem naturais.
Um exemplo recente é de uma marca curitibana de camisetas que convidou artistas locais para criarem estampas no estilo chicken scratch. Cada arte parece ter sido feita no intervalo do colégio, com traços imperfeitos e personagens esquisitos. E o resultado foi exatamente o que eles queriam: uma coleção que se conecta com o público pela autenticidade. Nada parece artificial. Nada parece feito por robôs.
E não para por aí. Até em identidades visuais de marcas mais sérias, como cafeterias, galerias de arte ou eventos culturais, é comum ver colagens manuais digitalizadas, recortes tortos, carimbos falsos e até simulações de fitas adesivas. Tudo isso pra transmitir uma ideia de que aquele projeto teve tempo, teve processo, teve alma.
Outro fator que contribui para essa valorização do imperfeito é o cansaço visual. Depois de tantos anos vendo os mesmos modelos de logo, os mesmos layouts com fontes geométricas e paletas pasteis, o público começou a buscar algo que não parecesse “fabricado em massa”. O resultado? Um espaço aberto pra experimentações mais humanas, sensíveis e… sim, visualmente desafiadoras.
Essa tendência também é um reflexo do que vem acontecendo fora do design. As pessoas têm buscado experiências reais, com cheiro, textura, ruído, imprevisibilidade. Livros físicos voltaram com força. Discos de vinil também. O artesanal ganhou valor. E o design curitibano, antenado como sempre, entrou nessa mesma sintonia.
Curiosamente, até os próprios clientes — que antes queriam tudo “certinho” — começaram a se encantar com esse tipo de visual. Aquela ideia de que o bom design é o mais limpo e silencioso vem sendo substituída por outra: o bom design é o que tem personalidade. E a personalidade, como se sabe, raramente é perfeita.
Em resumo (mas sem usar “em resumo”, né?), o que se vê hoje em Curitiba é uma espécie de contrarrevolução criativa. Em vez de correr pra automatizar tudo, os designers estão tirando tempo pra desenhar à mão, colar, escanear, experimentar. Estão aceitando o erro como parte do processo. Estão redescobrindo que, no meio do excesso de tecnologia, o que realmente chama atenção é aquilo que parece ter sido feito com carinho, por alguém de verdade.
E isso, em design gráfico, faz toda a diferença.